PARA EVITAR AS PRESCRIÇÕES DA HISTÓRIA
Cada fase da existência nos oferece seus prazeres. Em meus tempos de estudante, sentia um particular interesse em fazer a pescaria de livros raros, nas numerosas casas – então prosaicamente chamadas “sebo” – que os vendiam em segunda mão.
Ao longo dessas pesquisas não raro me caíam nas mãos volumes dedicados pelo autor, a este ou àquele amigo, com expressões que traduziam, ora uma amizade terna ou bombástica, ora um sentimento de mal disfarçada superioridade, ora por fim o desejo de obter para a obra recém-nascida
as boas graças de algum intelectual ilustre ou de algum crítico perigoso.
Nunca fui propenso a colecionar autógrafos. Por isto, repunha na estante o volume, quando não me interessava. Mas me perguntava a mim mesmo: o que dirá o autor, se cá vier comprar livros, e vir que seu amigo vendeu assim por uns magros cruzeiros (mil-réis, dizia-se então) não só a obra como a dedicatória, não só a dedicatória como, em última análise, também a amizade?
E daí me vinha, com um sobressalto, outra idéia. Se eu algum dia escrever um livro, e encontrar dele algum exemplar com dedicatória, à venda em algum “sebo”, o que farei? Parecia-me que a melhor solução para evitar tão humilhante eventualidade, era a que vim a adotar: não publicar livro algum…
Recordava-me destas apreensões da juventude, ao coordenar idéias para o presente artigo. E dizia de mim para mim que este é um dissabor de que o autor de “Em Defesa da Ação Católica”
está bem livre.
Opção 1
Opção 2

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